Em Évora as casas são brancas, as ruas são estreitas e as pessoas são acolhedoras. Em Évora lava-se a roupa suja dentro de casa, mas estende-se ela limpa do lado de fora. Em Évora as ruas têm cheiro de sabão em pó. Em Évora a brancura das casas é colorida pelas roupas estendidas nos varais. Em Évora as roupas dançam ao som dos pardais.

Évora que se mostra, desvela-se, desnuda-se para o transeunte. A cada esquina um varal. Peças de roupas pregadas por grampos coloridos a secar sob o sol de primavera e a dançar com o vento seco. Roupas de pessoas de todas as idades, roupas de todas as cores, de todos os estilos, roupas que contam histórias.

De quem será aquele vestido de bolinhas amarelas? E aquela calça jeans rasgada? E aquela calcinha de babadinhos? Quem é que deixa seu dia ir embora com a água para renascer outra vez com a luz do sol? Quem é que estende sua vida em varais nas ruas de Évora? Quem é que transforma o transeunte em espectador itinerante, em criador de histórias, em confidente?

O que pode parecer um simples ato de estender a roupa no varal, em Évora se transformou em um ato de confiança entre os moradores da cidade. Nos varais além das roupas, são estendidas as histórias de vida de cada pessoa, o cotidiano. Hoje o vizinho estava apressado, derrubou café na toalha. E assim, anda-se pelas ruas criando hipóteses, histórias, situações. E se tem a sensação que conhecemos todos os moradores e que somos de certa forma, íntimos.

Talvez esta seja a palavra-chave, intimidade. Até mesmo na literatura o intimismo é uma modalidade que trata dos sentimentos íntimos mais profundos e dentro da modalidade do impressionismo retrata cenas da vida cotidiana. Não é isso que ocorre com o ato de estender roupas no varal? Um ato cotidiano que revela outros atos cotidianos e que expõe a vida do usuário das roupas.

Quão profundo e belo é o ritual de lavar e estender roupas. Quão interessante é ouvir o que as roupas têm para contar. Descobrir os significados escondidos em um ato trivial, mesmo estes sendo somente hipóteses de uma artista encantada com o mundo.

Rhaisa Muniz